segunda-feira, 18 de abril de 2011

E Deus fez discípulos no sertão

Enfadada e ressequida pela “aridez” do sertão, fui acometida de uma alucinação, como num sonho que se sonha acordado. Vi pastores se preparando para adentrar as veredas perigosas do sertão cearense, onde dardos inflamados surgem em meio à caatinga, e nem se sabe de que lado vêm, tampouco quem os lançou, mas atingem tão dolorosamente, que se chega a  pensar que não haverá cura. Assim me encontrava quando da visão que mudou minha vida; ferida, dolorida e sem forças. Pensei ser esses pastores mestres que iriam me treinar, pôr-me de pé, mesmo com a alma cansada.
            Nesse meu sonho acordada, vi que eles já haviam saído do seu ponto de partida, quando algo “tolo” os impediu de prosseguir. E eu no meu sertão de sol quente e corações frios, angustiada e sedenta por qualquer conselho ou palavra que eles pudessem ministrar-me, que servisse de gibão, protegendo-me dos espinhos das estreitas veredas sertanejas, as quais Deus nos deu por herança. O vento impetuoso do Espírito Santo, tão desejado, foi substituído pelo vento gelado do desespero, da dúvida, do medo de que tudo com que sonhamos durante meses pudesse não acontecer.
            Pensei em chorar, mas como me dar o direito de ser vulnerável diante de tantos que esperavam ”tanto” de mim? Olhei pra frente, rostos sedentos como o meu; olhei para trás, apenas instrumentos inertes, ecoando o silêncio que sufocou a adoração há tempos desejada, que não veio naquela noite. Então olhei para o lado, busquei socorro no meu pastor (naquele momento não o vi como meu esposo), mas o seu semblante abatido só me mostrou que estávamos dividindo a mesma luta. Instantaneamente elevei meus olhos para o alto e tentei decifrar o silêncio de Deus. Um silêncio que gritava...  Apavorei-me, Joguei-me ao chão, e lá me senti nua, desprovida de minhas idéias e experiências... “descer ao pó”, foram as únicas três palavras que consegui interpretar daquele silêncio divino.
            Então vi meus 14 nos de liderança retrocederem no tempo, onde suor  e sangue pareciam ter sido derramados em vão. Senti-me desprotegida, incapaz. E parece que meu pastor compartilhava da mesma aflição, embora sua calma corriqueira tenha tentado se impor.
            Mas havia ainda a esperança de que tudo que sonhamos pudesse acontecer ao nascer do sol. É isso! Só podia ser isso que Deus tinha preparado: a alegria ao amanhecer!!! Mas ainda estávamos inseguros... Será que essa missão “mosaica” para os sertões não iria se concretizar, esse mar de areia não iria se abrir? Uma mente “escrava” sempre duvida...
            Novo dia, esperança ao pé da cruz... pessoas chegando e o cheiro de café para espantar a medo de  não... Mas lembrei das palavras de Jó e bradei-as em voz alta: “Eu sei que meu Redentor vive e nenhum dos seus planos é frustrado”.
            E no meio da minha alucinação, outro vento de pesadelo tentara me desgarrar do Espírito, quando me deram a notícia de que os mensageiros de Deus, mesmo contando com norteador via satélite e mapa, erraram o caminho que os trariam a nós. Então pensei: “Deus, se isso for perseguição do Inimigo, repreendemos agora em nome de Jesus. Porém não sentimos poder maligno em tudo aquilo e já não sabíamos como agir. Mais uma prece: “Senhor, faz-nos entender o teu querer!”. E tudo começou a fazer sentido quando meu pastor (amor) recostou-se a mim e disse: “Vou buscá-los e mostrarei o caminho. Fique calma, agora eles irão chegar!”. Aquelas palavras foram vento profético, embora no momento eu não tenha tido  brandura e sensibilidade para perceber a lição espiritual advinda do trono do nosso Deus.
            Minutos se passavam, pernas tremiam... aguardávamos sem controle a entrada daqueles que viriam nos curar do cansaço e da mediocridade com que, sem percebermos, estávamos tratando nossa vida em Cristo.
            Eu já nem sabia mais o que estava esperando, naquelas alturas, desejei apenas que eles chegassem em paz e ilesos.
            Chegaram! Arrepios, emoção, corações contritos... Desejávamos quaisquer migalhas de experiências vividas com Deus que eles pudessem compartilhar conosco... Mas eles nos trouxeram banquetes regados a maná dos Céus...
            Aí acordei do êxtase, e já não sou mais capaz de narrar o que nos sobreveio, pois desde então tenho estado embriagada de uma essência curativa que vazou do trono de Deus quando o céu foi rasgado pela adoração de uma menininha loirinha e linda, acompanhada de anjos tocadores e adoradores, que se diz humana como nós, mas eu tenho cá minhas dúvidas se sobre ela não existe uma porção divina maior do que a que Deus dispensou a nós, simples mortais.
            Alguns dizem que perdi a consciência, a compostura... acho que perdi foi a vergonha  e a arrogância que me impedia de reconhecer que não sou nada mais que uma adoradora, sem medo de me vulnerabilizar e descer  ao pó, de onde posso respirar Aquele que vive em mim. E se eu perdi a consciência diante daquele “batismo de amor”, deixei que minha embriaguês se responsabilizasse pelo barulho da minha alma, até então cansada e aflita, agora saciada e lavada com puro nardo.
            Eu e meu amor-pastor prostrados como nunca antes em 14 anos de liderança, indefesos e carentes de colo, sendo cuidados; deslumbrados com o Pai-Herói, que é muito mais amor do que justiça e aprendemos, então, que adorar no deserto é tão agradável como contemplarmos a neve.
            Depois, quando a lucidez nos alcançou novamente, tudo ficara tão claro! E entendemos toda a trajetória da viagem de Dino e Melissa ao sertão de Quixeramobim, como se fora a nossa própria trajetória ministerial, em forma de parábola. Em 1997, Começamos nosso caminho com o combustível errado; elogios e modelos prontos de igrejas de sucesso... Não fomos muito longe. Diante dos desafios e dúvidas, deixamo-nos levar pela razão(GPS) e principalmente pelas nossas “achologias”  forjadas naquilo que entendíamos como experiência com Deus (mapa). E é claro que, com tantas estradas parecidas, imaturidade e ventos de doutrinas, foi inevitável um erro de percurso.
            Porém, Aquele que realmente nos guia, e que nos ama até o fim, vai nos buscar, seja à beira do precipício, seja no vale de ossos secos, e nos resgata coroados com vestes novas e banquete de novilho cevado.
Dino, Melissa, Zé, Verônica, Daianne, Clébio, Nick e Vick chegaram no momento certo e foram para nós muito mais do que esperávamos... agora são, ao nosso ver, os “caçadores de discípulos”, que fizeram de nós presas fáceis e orgulhosas de termos sido rendidas por Aquele que nos capturou para nos fazer infinitamente livres.
O final dessa história não será publicado em periódicos de grande circulação, tampouco se transformará em pregação de DVD. Não encontramos fama, sucesso, dinheiro... Porém, o que encontramos está bem escondido nas cordas do coração, onde a traça não corrói, o tempo não apaga e a luta não destruirá. E é tão imenso e tão intenso que não podemos transpor na insuficiência do papel, que não seria capaz de suportar o reflexo da glória que permanece em nós, depois dessa real escola de adoração Em sua Presença.

5 comentários:

  1. Esta crônica foi escrita como forma de agradecimento à Escola de Adoração em sua presença, nas pessoas de Dino e Melissa Guimarães, suas filhinhas e demais integrantes que estiveram conosco (e agora em nós), durante os dias 26 e 27 de março, e que transformaram nossas vidas e perspectivas cristãs, com o objetivo de despertar as pessoas do nosso sertão cearense para a necessidade de servirmos a Deus sem medida, nestes últimos dias, para que apressemos a vinda de Jesus. O Nordeste precisa conhecer Jesus de fato e não de religião. Somente a presença de Deus vai nos fazer resistirmos a esses dias maus e fazer atravessarmos as muitas areias e ventos que nos distanciam do Deus vivo.

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  2. Você não tem idéia do quanto sua carta tem impactado pessoas no Brasil e até fora dele...Deus te abençoe e te encoraje a prosseguir, sempre...para o Alvo!

    Saudades,

    Amamos vcs,

    Mel

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  3. Eu sou uma das impactadas!
    Deus continue abençoando.

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  4. Graça e Paz a todos, sempre admirei muito este casal de pastores (netanias e sara) e me emocionei muito lendo esta crônica, que palavra, quanta sensibilidade a vida de Deus...creio que um novo tempo se instala em quixeramobim sob o povo do todo poderoso, contem comigo tbm sou discipulo no sertão

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